No artigo anterior desta série, falei sobre os desdobramentos do desmascaramento de Anderson Montreanjo, um tradutor de livros sobre “lei da atração”, o qual é considerado “a voz brasileira de Neville Goddard”. Neste texto, levantarei alguns questionamentos sobre esta “lei universal”, baseado na experiência negativa que tive com ele. Caso você não tenha lido ainda o artigo anterior, leia, pois é de suma importância para a compreensão das questões que abordarei aqui.
1 — Se a “lei da atração” realmente é tudo isso que dizem, por que Anderson não a utilizou para “cocriar” uma filha mais obediente?
Um dos ensinamentos mais populares deste tradutor metido a “guru espiritual” é justamente sobre “cocriação”. Ele ensina uma porção de técnicas que supostamente fazem com que uma pessoa seja capaz de ter a realidade desejada “apenas com a força do pensamento positivo”.
Inclusive, uma de suas peripécias é alegar que conseguiu “cocriar” um romance com uma morena do cabelo liso usando técnicas de “lei da atração”. Convenhamos que, ao menos teoricamente, é bem mais difícil cocriar um romance com uma pessoa que tem vida e vontade próprias do que “cocriar” a obediência de uma criança, que é um ser humano em formação.
Então, por que ele não utilizou-se destas técnicas para atrair uma filha mais obediente, ao invés de apelar para os tradicionais métodos de castigos físicos?
2 — Será que Anderson não “cocriou” voluntariamente uma filha desobediente, a fim de poder utilizar a desobediência da menina como pretexto para bater nela?
Suponhamos que realmente seja possível “cocriar” a realidade desejada. Nesse caso, o cidadão em questão pode muito bem ter “cocriado” uma filha desobediente de propósito, a fim de utilizar a insubordinação da garota como pretexto para castigá-la fisicamente. Vai saber…
3 — Não se pode levantar bandeira contra certas coisas (no caso, pais baterem em filhos), mas pode-se levantar bandeira política contra o comunismo… 🤔
Em um de seus posts, que pode ser visto aqui no YouTube e aqui no Instagram, Anderson ataca diretamente o comunismo, alegando que luta contra “essa ideia de querer tudo de graça é que é tão abraçada por comunistas e é a mãe do assistencialismo e do vitimismo”, além de insinuar que “os comunistas se servem do capitalismo e defendem o comunismo “no discurso, mas não na prática”.
Por outro lado, em um de seus áudios, que podem ser acessados na leitura deste artigo, ele diz que, nos ensinamentos sobre “lei da atração”, “não se pode levantar bandeira contra certas coisas” (no caso, pais baterem nos filhos).
Ora essa, quer dizer que usar a “lei da atração” para levantar bandeira contra bater em filhos não pode, mas para levantar bandeira contra o comunismo pode? Enfim, a hipocrisia…
Caso ele apague os posts, você pode ver a imagem original logo abaixo:
Isto, inclusive, o faz cair em outra contradição, já que ele alega que seu canal não está “se bandeando” para o lado político de direita, mas, num print que mostrei no artigo anterior desta série, ele me ataca diretamente, dizendo que sou “um ser dominado pelo vitimismo”, dado o fato de que eu havia feito em meu Instagram uma postagem declarando ser esquerdista e progressista (e sou mesmo).
4— Se “nesse universo nada é errado, então por que Anderson castiga fisicamente sua filha por desobedecê-lo?
Segundo este charlatão, “neste universo, nada é errado. Existe apenas aquilo que serve ou não ao seu propósito”. Para ver o momento em que ele diz isto, acesse este vídeo: https://youtu.be/4dN9eSAaKOo
Continuando o raciocínio, se “neste universo, nada é errado”, então a desobediência da filha dele não é errada. Se a desobediência dela não é errada, então por que ele bate nela quando ela desobedece? Eis a questão…
5 — Se o universo entende a nossa vibração mais “em alta”, então ele [teoricamente] está prejudicando a cocriação da realidade desejada da menina.
Vamos apenas fazer de conta que realmente “o universo entende a vibração mais intensa que emanamos e nos entrega mais daquilo”.
Nesse caso, vamos imaginar o seguinte:
Anderson acabou de bater em Fernanda Alice. A menina, então, chora, com uma intensidade enorme de ressentimento, raiva, tristeza, etc., por ter apanhado, o que frustra seus planos anteriores e faz com que o universo entenda que ela gosta de apanhar e chorar, já que a criança em questão emanou muito mais essa vibração do que aquela que condiz com a realização de seus desejos conscientes. Com isto, o universo entrega para ela mais e mais situações em que ela apanha e chora.
Por outro lado, o “guru espiritual” dessa história não se altera energeticamente ao aplicar o castigo físico na menina, mantendo sua vibração positiva e, assim, conseguindo atrair para a própria vida tudo aquilo que deseja, enquanto que a cocriação da filha fica arruinada.
6 — Intransigência gera intransigência.
No vídeo que linkei acima, Anderson alega que a intransigência de nossa parte faz com que o universo nos devolva esta energia de intransigência de alguma maneira. Na gravação em questão, o foco maior é nos relacionamentos românticos, mas isto poderia também se enquadrar na criação dos filhos, não?
Além disso, se, de fato, “intransigência gera intransigência”, pode-se dizer que este indivíduo atraiu para si o processo judicial que responde atualmente na justiça, pelo crime de maus-tratos. Ele atraiu o que merecia, ou seja, um processo judicial. E tudo porque foi intransigente ao não considerar outras possibilidades de se educar os filhos.
A julgar por sua teoria, o universo devolveu a intransigência me mandando até ele para enviar seus áudios às autoridades a fim de que ele responda pelo crime que cometeu.
7 — Se a dificuldade é benéfica, por que Anderson não vê com bons olhos as dificuldades que um eventual mau comportamento da sua filha poderia causar a outras pessoas?
Em um post do Instagram e em outro post na aba “Comunidade” em seu canal do YouTube, ele alega que, com a dificuldade, “encontramos habilidades em nós que em tempos fáceis ficariam adormecidas”.
Caso ele apague os posts, aqui abaixo estão as imagens das postagens:
Ora, se a dificuldade é algo tão positivo assim, então por que ele, ao invés de punir fisicamente a filha pela desobediência, não vê com bons olhos o mau comportamento da menina, que, agora ou no futuro, poderá causar dificuldades a outras pessoas, levando-as a encontrarem dentro de si habilidades que, se não fosse pela dificuldade, estariam adormecidas?
Além do mais, se é bom que as pessoas encontrem na dificuldade “um motivo para se tornarem melhores”, não seria a desobediência da filha dele uma coisa boa, fazendo com que as pessoas se tornem melhores depois de enfrentarem as dificuldades que ela eventualmente vier a causar?
8 — O Estado não diz a Anderson o que fazer ou não, mas, quando sua filha for crescida, ele provavelmente espera que ela obedeça às leis do Estado.
No vídeo linkado no quinto artigo desta série, Anderson diz em alto e bom som que “não é o Estado que vai me dizer o que fazer ou não [sobre como educar minha filha]”. Mas, provavelmente, ele espera que a menina creça e obedeça a todas as leis do Estado. Enfim, a hipocrisia…
Estes e muitos outros questionamentos são para lá de pertinentes quando se trata desse charlatão metido a guru espiritual.
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